domingo, 2 de outubro de 2011

Depois de um grande tempo de ausência...

Estive "ausente" durante algum tempo. O motivo? Falarei dos motivos mais adiante. Refleti muito em escrever tudo o que me aconteceu e ainda acontece, mas creio que se todos que passam pelo que eu passo compartilhassem tais momentos, a luta em viver ficaria menos dolorosa. Há quase dois anos (ou mais, nem me lembro direito) luto contra uma doença que rasga a alma: Depressão Grave.
A seguir, descreverei meu primeiro depoimento.


Quando eu era criança, lembro-me que a dor psicológica que eu sentia era tão grande que nos momentos de fúria, eu arranhava e dava tapas fortes no meu próprio rosto. Puxava meus cabelos, dava murros na parede...tudo em silêncio. O sofrimento psicológico era tão grande que, essas eram as única formas de eu extravassar a minha dor, talvez fosse um escape da dor interior; essa dor era tão grande que meu espiríto não aguentava, expodia e o jeito de explodir era me auto punindo, me machucando. Não me lembro bem da época ou quando acontecia isso, mas sei que fazia tudo isso sem meu pai perceber. Sofria sozinha pois achava que ninguém ia me entender e eu tinha vergonha de ser assim. Na frente de todos eu sempre passei a imagem de uma boa menina, sempre sorridente mesmo que por dentro corresse um rio de lágrimas infinito. E outra, eu não queria deixar meu pai preocupado, ele já dava um duro danado pra ser pai e mãe e ainda trabalhar fora.
Eu sentia que tinha algo errado comigo, mas depois dessas crises, por incrivél que pareça, eu ficava bem, como se nada tivesse acontecido. Era como se tivessem tirado um fardo das minhas costas, me sentia leve e feliz.
Aos 13 anos, quando meu pai faleceu lembro-me de poucas crises. Talvez porque eu tenha ficado em estado de choque durante meses. Na minha cabeça, meu pai não tinha morrido, sempre afirmava pra mim mesma que ele tinha ido viajar e que a qualquer momento, ele chegaria. Mas depois que a minha ficha caiu as coisas ficaram bem piores...eu não conseguia chorar e sentia um vazio mais profundo do que eu já sentia desde criança. Fui morar um tempo com a minha mãe, mas não me adaptei. Então voltei a morar na casa da minha avó (meu pai, eu e meu irmão sempre moramos com minha avó paterna), e lá estava morando também a minha madrasta e a minha irmã por parte de pai.
Tudo corria bem até que, acho que 6 meses depois, a minha madrasta também morreu. Então eu, minha avó e meu tio ficamos a cargo de tomar conta da minha irmã, que na época era um bêbe de 2 anos.
Eu tinha um escape para toda a situação da minha casa... A escola, que eu adorava ir por causa dos meus amigos (mas ninguém sabia o que acontecia comigo) e os treinos de volêi. Ah, os treinos de vôlei! Isso sim me fazia feliz, muito feliz! As lembranças mais felizes que eu tenho são da escola e principalmente dos treinos! E foi nessa mesma época que eu comecei a fugir de casa. A Minha avó não me deixava sair de casa, independente do horário, de tarde, de manhã ou à noite, muito menos a noite. Eu só podia ir à escola e pros treinos. Se o treino terminava as 22:00, as 22:20 eu tinha que estar dentro de casa. 5 minutos de atraso resultavam em castigo de meses sem treinar e isso pra mim era igual à morte.
Mas eu fugia somente pra me divertir, pra ter uma vida saudável de adolescente, encontrar meus amigos... eu não bebia, não fumava e muito menos passava pela minha cabeça em usar drogas, afinal eu era uma atleta! Nos finais de semana eu esperava todo mundo dormir, saia de fininho e pulava o muro de casa sem me importar com as consequencias. Isso durou meses, até que um dia fui pega no flagrante pulando o muro, mas eu não voltei pra casa, fui para a casa de uma amiga, meu tio foi atrás e a mãe da minha amiga conversou com ele e disse que eu voltaria pra casa no dia seguinte. Já que eu estava ferrada mesmo, eu e minha amiga saímos e nos divertimos muito, e eu nem sabia que esse seria o último dia que eu ficaria com um “amigo colorido” que eu tinha, pois tempos depois ele morreu devido a um câncer.
Bem, depois de “descoberta”, minha vida virou um inferno. Minha avó me humilhava, me castigava psicologicamente e me tirou dos treinos de vôlei- e isso pra mim foi a morte. Cai numa tristeza profunda e foi assim que finalmente meu luto pelo meu pai apareceu. A falta que ele me fazia rasgava a minha alma lentamente, todos os dias. O único momento de felicidade que eu tinha era quando eu ia á escola, meus amigos eram o meu alicerce, mesmo por poucas horas. Mas nenhum deles sabiam do meu sofrimento, na frente deles eu era a Dani maluquinha que fazia piadas, cabulava aulas e dava muitas risadas... tempos bons, viu.
Só que em casa era um tormento... depois que meu pai morre, minha avó ficou uma pessoa mais rígida e menos carinhosa. Eu não aguentava mais! Voltei a ter algumas crises... e um dia isso não foi mais suficiente. Então foi aí que eu resolvi morrer, afinal eu já me sentia morta. Lembro-me que não tive medo, não tive dúvidas e até estava me sentido “leve”, pois na minha cabeça eu iria ficar com meu pai novamente e finalmente iria ser feliz.  Acredito também que fui egoísta... por todo o tempo pensei no meu irmão e nas minhas irmãs, mas a insanidade do momento me fazia pensar que eles ficariam melhor sem mim. A força psicologica que eu tinha pra cometer o ato era gigante, estava determinada à morrer, acabar com toda aquela dor e revolta que eu estava sentindo.
Primeiro tentei tomar algum produto de limpeza ao qual não me lembro o nome, mas não consegui tomá-lo já que no primeiro gole acabei queimando a boca e a garganta. Procurei por toda a dispensa algum remédio, veneno... só consegui achar soro para o nariz e tomei o frasco inteiro. Como sabia que isso não ia adiantar nada e não conseguia achar mais nada, a minha raiva e determinação só aumentaram. Tentei cortar o pulso, mas no primeiro corte leve desisti, não ia conseguir fazer isso. Foi então que vasculhando o quarto da minha avó, encontrei no guarda roupas duas caixas de um remédio que não me lembro o nome, mas a tarja preta na embalagem me deixou feliz!  Bingo, encontrei a minha solução! Não me lembro quantos comprimidos tomei, só lembro que as caixas ficaram vazias e pra ninguém saber, joguei as caixas fora de uma tal maneira que nunca iam ser achadas. Foi nesse momento que eu senti uma paz interior imensa... Inacreditavelmente imensa.