quarta-feira, 4 de março de 2009

Me embriagando com...BAUDELAIRE

Embriaguem-se

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: Eis a única questão
Para não sentirem o fardo horrível do Tempo
que verga e inclina para a terra,
é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude,
a escolher.
Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio,
sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto,
a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar,
pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são;
E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se!
Para não serem os escravos martirizados do Tempo,
embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso".
Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.

(Charles Baudelaire-Pequenos Poemas em prosa.)



A que está sempre alegre

Teu ar, teu gesto, tua fonte
São belos qual bela paisagem;
O riso brinca em tua imagem
Qual vento fresco no horizonte.

A mágoa que te roça os passos
Sucumbe à tua mocidade
À tua flama, à claridade
Dos teus ombros e dos teus braços.

As fulgurantes, vivas cores
De tua vestes indeiscretas
Lançam no espírito dos poetas
A imagem de um balé de flores.

Tais vestes loucas são o emblema
De teu espírito travesso;
Ó louca por quem enlouqueço,
Te odeio e te amo, eis meu dilema!

Certa vez, num belo jardim,
Ao arrastar minha atonia,
Senti, como cruél ironia
O Sol erguer-se contra mim;

E humilhado pela beleza
Da primavera ébria de cor,
Ali castiguei numa flor
A insolência da Natureza.

Assim eu quisera uma noite,
Quando a hora da volúpia soa,
Às frondes de tua pessoa
Subir, tendo à mão um açoite,

Punir-te a carne embevecida,
Magoar o teu peito perdoado
E abrir em teu flanco assustado
Uma larga e funda ferida,

E, como êxtase supremo,
Por entre esses lábios frementes,
Mais deslumbrantes, mais ridentes,
Infundir-te, irmã, meu veneno!

(Charles Baudelaire -As Flores do Mal)


As minhas viagens e momentos ébrios com esse fantástico e um dos "poetas malditos" Baudelaire, continuará em um outro post com a maravilhosa obra: "O poema do Haxixe e do Vinho" e "As Flores do Mal"...

É só aguardar e se embriagar com poesia, vinho,virtude ou porque não, com os três juntos???

3 comentários:

  1. Do vinho a virtude que sera´ feita poesia!

    Ótimo 'post' Dani! Tamu juntuuu!! Beijo!

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  2. Vinho,virtude e poesia...eita embriaguês boa!
    Tamu juntu e misturadu Pajézão!!!

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  3. aqui eh um oasis!
    Comecei a visitar seu blog pelos poemas do Morrison, mas por aqui tem muita coisa, Rimbaud, Baudelaire, Florbela...
    Sim querida, seu lugarzinho virou meu reduto(um dos)!
    E Aqui eh um lugar de se embriagar!

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