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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Jim Morrison- Leitura de Palco na UMESP


Este vídeo foi feito na semana de Arte e Literatura da Umesp.
Fonte: Comunidade "O Navio de Cristal" (Orkut)
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=56421236&tid=5480492683828656568

Como é um vídeo maravilhoso, rico em informações, achei interessante colocá-lo aqui no blog.
É só copiar e colar o link no navegador. Não será necessário baixá-lo!
The Lizard King Live! E sua poesia sempre continuará atual e presente.

Deliciem-se:

http://www.megavideo.com/?v=G39TU8UZ

quinta-feira, 5 de março de 2009

Continuando... Viajando com Baudelaire

Bem, depois de me embriagar está na hora de viajar! Esse poema de Baudelaire nos propõe uma fuga para um lugar onde "tudo é paz e rigor, luxo, beleza e langor". Uma proposta de um sonho e fuga.

O CONVITE À VIAGEM
( As Flores do Mal)

Minha doce irmã,
Pensa na manhã
Em que iremos, numa viagem,
Amar a valer,
Amar e morrer
No país que é a tua imagem!
Os sóis orvalhados
Desses céus nublados
Para mim guardam o encanto
Misterioso e cruel
Desse olhar infiel
Brilhando através do pranto.

Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.

Os móveis polidos,
Pelos tempos idos,
Decorariam o ambiente;
As mais raras flores
Misturando odores
A um âmbar fluido e envolvente,

Tetos inauditos,
Cristais infinitos,
Toda uma pompa oriental,
Tudo aí à alma
Falaria em calma
Seu doce idioma natal.

Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.

Vê sobre os canais
Dormir junto aos cais
Barcos de humor vagabundo;
É para atender
Teu menor prazer
Que eles vêm do fim do mundo.
— Os sangüíneos poentes
Banham as vertentes,
Os canis, toda a cidade,
E em seu ouro os tece;
O mundo adormece
Na tépida luz que o invade.

Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.


Fonte: http://www.algumapoesia.com.br

quarta-feira, 4 de março de 2009

Me embriagando com...BAUDELAIRE

Embriaguem-se

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: Eis a única questão
Para não sentirem o fardo horrível do Tempo
que verga e inclina para a terra,
é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude,
a escolher.
Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio,
sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto,
a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar,
pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são;
E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se!
Para não serem os escravos martirizados do Tempo,
embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso".
Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.

(Charles Baudelaire-Pequenos Poemas em prosa.)



A que está sempre alegre

Teu ar, teu gesto, tua fonte
São belos qual bela paisagem;
O riso brinca em tua imagem
Qual vento fresco no horizonte.

A mágoa que te roça os passos
Sucumbe à tua mocidade
À tua flama, à claridade
Dos teus ombros e dos teus braços.

As fulgurantes, vivas cores
De tua vestes indeiscretas
Lançam no espírito dos poetas
A imagem de um balé de flores.

Tais vestes loucas são o emblema
De teu espírito travesso;
Ó louca por quem enlouqueço,
Te odeio e te amo, eis meu dilema!

Certa vez, num belo jardim,
Ao arrastar minha atonia,
Senti, como cruél ironia
O Sol erguer-se contra mim;

E humilhado pela beleza
Da primavera ébria de cor,
Ali castiguei numa flor
A insolência da Natureza.

Assim eu quisera uma noite,
Quando a hora da volúpia soa,
Às frondes de tua pessoa
Subir, tendo à mão um açoite,

Punir-te a carne embevecida,
Magoar o teu peito perdoado
E abrir em teu flanco assustado
Uma larga e funda ferida,

E, como êxtase supremo,
Por entre esses lábios frementes,
Mais deslumbrantes, mais ridentes,
Infundir-te, irmã, meu veneno!

(Charles Baudelaire -As Flores do Mal)


As minhas viagens e momentos ébrios com esse fantástico e um dos "poetas malditos" Baudelaire, continuará em um outro post com a maravilhosa obra: "O poema do Haxixe e do Vinho" e "As Flores do Mal"...

É só aguardar e se embriagar com poesia, vinho,virtude ou porque não, com os três juntos???

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Mais Morrison!!!




"GASTA-SE MAIS EM TABACO E ÁLCOOL DO QUE EM SAÚDE E EDUCAÇÃO, ESSA É A AMÉRICA"...




JIM MORRISON - OS MISTÉRIOS DO SER
Jim deixou-nos algumas canções e outros poemas. Viajou por terras onde nunca alguém havia penetrado e daí extraiu, por magia ou eloquência, o hedonismo da conquista. Violou o que de mais precioso nos pertence – O nosso lado mais secreto com as divindades. Por tal, não merece a redenção. Mas será que alguma vez a procurou? Esta noite não pretende ser uma homenagem a Jim Morrison. Nem tão pouco uma noite de evocação ou prantos. Uma reunião? Talvez… Um reencontro de energias onde o Xamã Álvaro Costa convoca Rui Pedro Silva e exorta os mitos e as lendas de um poeta – Era só isso que Jim queria. Ser um poeta como Kerouac ou Rimbaud. Nada mais… Indiferentes a sua mais ínfima vontade, fizemos de James Douglas Morrison a maior Rock Star de todos os tempos.No final da transmissão, conversa e uma revisita á música dos Doors, com o Dj Lizard Mojo… Noite dentro… Nas penetráveis portas da Casa das Artes.
Texto escrito por ocasião de uma homenagem a JIM MORRISON na Casa das Artes, PORTUGAL.
A CASA DAS ARTES é uma das melhores Casa de Cultura de Portugal e da Europa.




Coloco aqui mais poesias desse ser maravilhoso que, com suas poesias e letras de músicas conseguiu incomodar os farsantes do poder (tanto que rola uma "lenda" que Jim fora assassinado pelo FBI). Este poema "An American Prayer" é um dos meu favoritos:



Um Orador Americano




Conheces o quente progresso de baixo das estrelas?
Sabes que existimos?
Terás esquecido as chaves
do Reino?
Terás nascido ja
& será que estás vivo?
Reinventemos os deuses, todos os mitos
das eras
Celebremos os símbolos das anciãs florestas profundas
(Terás esquecido as liçõesda guerra antiga)
Precisamos de grandes cópulas douradas
Os pais cacarejam nas árvores
da floresta
A nossa mãe está morta no mar
Sabes que estamos a ser conduzidos ao matadouro
por plácidos almirantes
& que lentos generais gordos
se tornam obscenos com o sangue jovem
Sabes que somos governados pela TV
A lua é uma besta de sangue seco.
Bandos de guerrilheiros contam efectivos
no próximo canteiro de verdes vinhas
preparando-se para a guerra
contra inocentes pastores que
se limitam a morrer
Ó grande criador do Ser
Concede-nos uma hora mais
para exibirmos a nossa arte
& aperfeiçoarmos as nossas vidas
As traças & e os ateus são duplamente divinos
& mortais Vivemos, morremos
& a morte não é o fim
Viajemos ainda mais para dentro do
Pesadelo
Agarra-te à vida a nossa flor apaixonada
Agarra-te ás conas & caralhos do desespero
Obtemos a nossa última visão com o esquentamento
A virilha de Colombo
encheu-se de morte verde
( Toquei a coxa dela& a morte sorriu)
Reunimo-nos no interior deste antigo
& insano teatro
Para propagarmos o nosso desejo pela vida
& escaparmos à enxameante sabedoriadas ruas
Os celeiros foram arrasados
As janelas conservadas
& apenas um de todo o resto
Dança & nos salva
Com o divino arremedo
das palavras
A música inflama o temperamento
( Quando os verdadeiros assassinos do
Reitêm licença para vaguear livremente
1000 Magos erguem-sena terra)

Onde estão as festas que nos prometeram
Onde está o vinho
O Vinho Novo
( morrendo na vinha )
gozação permanente
dá-nos uma hora para a magia
Nós os da luva púrpura
Nós os do voo do estorninho
& da hora de veludo
Nós os gerados por prazeres arábicos
Nós os da cúpula do sol & da noite
Dá-nos um credopara acreditarmos
Uma noite de Luxúria
Dá-nos confiança
Na Noite
Dá de corcem matizes
Uma rica Mandala
para mim & para ti
& para a tua sedosa
e almofadada casa
uma cabeça, sabedoria
& uma cama
Confuso decreto
A gozação permanentete reivindicou
Customávamos acreditar
nos bons velhos tempos
Que ainda recebemos
sem modo escasso
As Coisas Amáveis
& o sobrolho carregado
Esquecem & consentem
Sabias que a liberdade existe
num livro escolar
Sabias que os loucos são
quem dirige a nossa prisão
dentro de uma jaula, dentro de uma gaiola
dentro de um branco, livre e protestante
Estado de confusão violenta
Empoleirámo-nos, temerários
à beira do aborrecimento
Estendemo-nos para a morte
na ponta de uma vela
Esforçamo-nos por algo
que já nos encontrou
Podemos inventar os nosso próprios reinos
grandes tronos purpúreos, aquelas cadeiras de luxo
& amar nós devemos, em camas de ferrugem
Portões de ferro fecham os gritos do prisioneiro
& a musiqueta, Onda Média, embala os seus sonhos
Sem o orgulho dos negros para alçar os sorrisos
enquanto os anjos trocistas coam as aparências
Ser a colagem do pó de revista
Esboçada na testa dos muros da confiança
Isto é só prisão para aqueles que devem
levantar-se de manhã & lutar por tais
padrões inutilizáveis
enquanto raparigas chorosas
exibem penúria & caretas
delirantes a uma turba
louca

Uau, estou farto de dúvidas
Vivo à luz de um certo
Sul
Laços cruéis
Os servos têm o poder
homens-cão & e as suas mulheres mesquinhas
esticam pobres cobertores sobre
os nossos marinheiros
(& onde estavas tu na nossa
hora difícil)
A mungir o teu bigode?
ou moendo uma flor?
Estou farto de rostos severos
Fixando-me da torreda TV.
Quero rosas no
meu caramanchão, entendes?
Bebés reais, rubis
devem agora substituir estranhos
abortados na lama
Estes mutantes, alimento sanguíneo
para a planta cultivada
Estão à espera de nos levar ao
jardim separado
Sabes o quão pálida & sensacionalmente travessa
chega a morte, numa hora estranha
não anunciada, não planeada
como um aterrador convidado amigável que tutrouxeste para a cama

A Morte faz anjos de todos nós
& dá-nos asas
onde tínhamos os ombros
suaves como as garras
de um corvo
Basta de dinheiro, basta de vestidos bonitos
Este outro reino parece de longe o melhor
até a sua outra mandíbula revelar incesto
& perder obediência a uma lei vegetal
Não irei
Prefiro uma festa de Amigos
à Família Gigante

(II)

Grande Cristo gritante
Olaré
Maria Preguiçosa quererás levantar-te
numa manhã de domingo
"O filme irá começar em 5 momentos"
Anunciou aquela voz sem sentido
"Todos os que estiverem de pé, esperarão
pelo próximo espectáculo"
Desfilámos lentamente, languidamente
até ao átrio. O auditório
era vasto & silencioso
Enquanto nos sentávamos & fomos obscurecidos
A Voz continuou:"O programa para esta noite não é novo.
Já viram
este entretenimento uma & outra vez
Viram o vosso nascimento, a vossa
vida & morte; podem recordar-sede tudo o resto -
(tiveste
um bom mundo quando
morreste?) - suficiente
para basear um filme?"
Uma risada metálica bateu-nos
no espírito como um punho
Vou-me embora daqui
Onde é que vais?Ao outro lado da manhã
Por favor, não afugentes as nuvens
os pagodes, os templos
A cona dela agarrou-o
como uma mão quente
e amigável
"Está tudo bem.
Todos os teus amigos estão aqui."
Quando posso ir ter com eles?
"Depois de comeres"
Não tenho fome
"Oh, queríamos dizer bateres"
Corrente de prata, grito prateado
concentração impossível
Aí vêm os comediantes
vejam como eles sorriem
Vejam-nos dançar
uma milha índia
Vejam como gesticulam
Um tal aprumo
Dá gestos a toda a gente
Palavras fragmentam
Palavras sejam rápidas
Palavras parecem bengalas
Planta-as
E elas crescerão
Vê como vacilam então
Serei sempre
um homem de palavra
Mais que um homem-pássaro
Mas ponho na conta
Não se vá embora
sem depositar um dólar
Tenho de dizer outra vez
em voz alta, percebeste a ideia
Não há comida sem o aumento de combustível
Ora esta, o espalhafato irlandês
soltou-me o bico
no pico dos poderes
Ó rapariga, solta
o teu pente atormentado
Ó mente preocupada
Peca nos sertões
perdidos através do esconderijo
Ela cheira a dívida
no meu novo colarinho
Prosa arrogante
Amarrada num rede de veloz perseguição
Por isso a obsessão
É fácil admitir
um ritmo rápido e emprestado
A Mulher meteu-se entre eles
Mulheres de todo o mundo uni-vos
Tornem o mundo seguro
Para uma vida escandalosa

Hee Heee
Corta a goela
A vida é uma anedota
A tua mulher está num fosso
O mesmo barco
Lá vem a cabra
Sangue Sangue Sangue Sangue
Estão a transformar o nosso universo
numa anedota

(III)

Caixa de fósforos
Serás tu mais real que eu
Vou queimar-te, & libertar-te
Chorou lágrimas amargas
Cortesia excessiva
Não esquecerei

(IV)


Uma doentia lava quente assomou,
Sussurrando & borbulhando
O rosto de papel.
Máscara-espelho, amo-te espelho.
Sofrera uma lavagem cerebral durante 4 horas.
O Tenente baralhou de novo"pronto a falar"
"Não senhor" - era tudo o que ele diria.
Regressa ao ginásio
Meditação
muito pacífica
Base aérea no deserto
espreitando para fora através das persianas
um avião
uma flor do deserto
boneco fixe
O resto do Mundo
é imprudente & perigoso
Olha para os
bordéis
Exploração de
Filmes para machões

(V)

Um barco sai do porto
cavalo ruim de um outro matagal
fúrcula do desejo
desacredita a raposa de metal.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Florbela Espanca - Poesia a flôr da pele!

Florbela Espanca, nasceu em Dezembro de 1894 em Vila Viçosa. Foi percusora do movimento feminista e a primeira mulher a frequentar o curso de Letras na Universidade de Lisboa em seu país, Portugal.
Em suas poesias descrevia sua inquietude e sofrimentos de uma vida tumultuada, aliados com doses de erotismo e feminilidade.
Florbela era filha de uma empregada e seu pai só reconheceu sua paternidade após seu falecimento. Casou- se 3 vezes e enfrentou forte preconceito devido as separações. Em 1919 publicou o Livro de Mágoas, ano em que sofrera de um aborto involuntário e começou a apresentar os primeiros sinais sérios de neurose. Seu primeiro casamento se desfez pouco tempo depois.
Casa-se pela segunda vez em 1921 e publica o Livro de Soror Saudade em 1923. Teve mais um aborto e separa-se pela segunda vez. Devido a esse fato, sua família afasta-se de Florbela, deixando-a muita abalada.Em 1925 casa-se pela terceira vez.
Em 1927 um fato marcou definitivamente Florbela: seu irmão querido falece em um trágico acidente. Escreve As Máscaras do Destino em sua homenagem. Com a perda do irmão, sua doença se agrava muito.
Em 1930, tenta o suicídio e sua neurose se agrava e descobre que também sofre de um edema pulmonar.
Em 2 de Dezembro de 1930, Florbela encerra seu Diário do Último Ano com a seguinte frase: "... e não haver gestos novos nem palavras novas." No dia do seu aniversário, em 08 de Dezembro Florbela D'Alma da Conceição Espanca suicida-se, ingerindo dois frascos de Veronal.

Os poemas de Florbela nos remete ao universo do amor, da arte de ser mulher, dos dissabores da solidão e das desilusões amorosas. Seus versos transbordam desejo, paixão, lirismo, erotismo e liberdade.
Aprecio seus poemas, pois seus versos traduzem muito do que eu sinto, do que eu penso, neles eu vejo as dores da minha alma concretizadas... É como se estivesse lendo sobre mim mesma!


Alma Perdida
(Livro de Mágoas)

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente…
Talvez sejas a alma, a alma doente
D’alguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste… e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh’alma
Que chorasse perdida em tua voz!…


Desejos Vãos
(Livro de Mágoas)

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza…
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras… essas… pisa-as toda a gente!…


O Meu Soneto
(A Mensageira das Violetas)

Em atitudes e em ritmos fleugmáticos,
Erguendo as mãos em gestos recolhidos,
Todos brocados fúlgidos, hieráticos,
Em ti andam bailando os meus sentidos…

E os meus olhos serenos, enigmáticos
Meninos que na estrada andam perdidos,
Dolorosos, tristíssimos, extáticos,
São letras de poemas nunca lidos…

As magnólias abertas dos meus dedos
São mistérios, são filtros, são enredos
Que pecados d´amor trazem de rastros…

E a minha boca, a rútila manhã,
Na Via Láctea, lírica, pagã,
A rir desfolha as pétalas dos astros!…


Anseios
(Trocando Olhares)

Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha cais!

Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais
Não valem o prazer duma saudade!

Tu chamas ao meu seio, negra prisão!…
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbre o brilho do luar!

Não ´stendas tuas asas para o longe…
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar!…


Visões da Febre
(Trocando Olhares)

Doente. Sinto-me com febre e com delírio
Enche-se o quarto de fantasmas
Uma visão desenha-se ante mim
Debruça-se de leve…

É uma mulher de sonho e suavidade
E disse-me baixinho:
“Eu me chamo Saudade,
E venho para levar-te o coração doente!

Não sofrerás mais; serás fria como o gelo;
Neste mundo de infâmia o que é que importa sê-lo
Nunca tu chorarás por tudo mais que vejas!”

E abriu-me o meu seio; tirou-me o coração
Despedaçado já sem uma palpitação,
Beijou-me e disse “Adeus!” E eu: “Bendita sejas!…”



Fontes:

http://www.prahoje.com.br/florbela/index.php

http://www.astormentas.com/biografia.aspx?t=autor&id=Florbela+Espanca

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Lágrima Terra


Esse é o título do livro de poesias dos meus queridos amigos André e Daniel. O lançamento aconteceu ontem no Sarau da Cooperifa. Claro que vindo deles já sabia que o trabalho seria belo porém, ao começar minha leitura percebi que tinha em mãos algo belissímo, emocionante.
Para os dois, desejo tudo de muito bom e espero que este seja o primeiro de muitos livros à serem publicados.
Com certeza essas lágrimas irão me acalentar! (Referente a dedicatória que o Dani escreveu no meu livro).

PS. Adorei a capa, o papel (reciclado) enfim, todo o acabento do livro!!!

Lágrima Terra
André Luiz Pereira e Daniel Fagundes

"Lágrima na terra
evapora e ganha osares
umidece a brisa
purifica o vento
enche nuvem
vira tempestade
Lágrima da terra que chora
corta a pele torrada pela seca
Lágrima que pinga do céu
pinta um sorriso no mesmo rosto ressecado
Lágrimas de tristezas e alegrias
na folha em branco
Marca d'água em poesia
Lágrima Terra
Gota de orvalho pingando do mato
Encharcando
Virando lago
Criando riacho
Regando a semente dos sonhos
Enverdecendo arbustos
Enriquecendo o tronco
Fazendo lama
Traçando do solo
uma veia pulsante no ventre da terra
Lágrima no asfalto
Fluindo no meio-fio
Matando a sede do nosso ser
tão castigado
Lágrima, lava a terra que empoeira a alma
vem ungir, abençoar o chão
Lágrima sentimento, razão de terra
O açúcar e o fel
O inferno e o paraíso
A dor que tempera quando é preciso
O amor pra todo dia
Lágrima que empoça e cria
o caminho argiloso dos contatos futuros
Deixa Gaya esculpir na pisada
deste barro, ninguém erguerá novos muros."


Lágrima Terra
Daniel Fagundes e André Luiz Pereira

Edições Toró Janeiro de 2009
Site Edições Toró:
http://www.edicoestoro.net/

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Poesias de Jim Morrison

Jim Morrison... Ouvindo esse nome automaticamente lembramos do The Doors. De uns tempos pra cá, ao ouvir o nome Jim Morrison me vem em mente suas poesias e depois, claro, as músicas magníficas dos Doors. Jim Morrison era vocalista do The Doors, mas como poeta assinava seu nome de batismo: James Douglas Morrison.
Muitos acham que Jim era apenas um vocalista drogado, mulherengo, bêbado e totalmente locão; O filme de Oliver Stone (que era seu colega na Universidade) ajudou muito a difundir essa imagem, diga-se de passagem. Só que a maioria das pessoas não conhecem suas maravilhosas poesias. Jim era culto, sensível, sempre vivia com um livro, recitava poesias durante os shows dos Doors, era cineastra, ensaista, escritor... Um Xamã da década de 60! Ele estava á frente do seu tempo e ficava frustado por não reconhecerem seu trabalho.
Suas influências vão de Rimbaud, Honoré de Balzac e Nietzche (suas teorias sobre moralidade ,estética e apolínea-dionisíaca, tiveram presença marcante em toda vida e obra do Jim).
Como disse Ray Manzarek em uma entrevista no ano passado: "Jim foi um gênio que tocou a todos nós. Sua sensibilidade e sua inteligência estavam acima da época, mas nenhum gênio vive para o seu tempo; ele vive para um tempo futuro. O tempo de Jim viria somente 20 anos depois de sua morte".

Talvez para Jim o "ser poeta" era ser o que foi escrito por Rimbaud: "...um poeta torna-se um sonhador através de um longo, ilimitado e sistemático desregramento de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; investiga-se a si próprio, consome dentro de si todos os venenos e preserva as suas quintessências. Um tormento indescritível, onde irá encontrar a maior fé, uma força sobrehumana, com que se torna, de entre todos os homens, o grande inválido, o grande maldito – e o Supremo Cientista! Pois alcança o desconhecido! E que interessa se for destruído no seu vôo extático por coisas inauditas e inomináveis... " Jim experimentou tudo isso, desregrou todos os sentidos, apostou todas as suas "fichas"... Ele sempre estava em busca do Desconhecido, da Liberdade Livre, aliás ele sempre fora muito preucupado com a sua liberdade e isso é escancarado nas suas letras nas músicas dos Doors e nas suas poesias.
Então, como eu sou uma fanatica pelo The Doors e apreciadora convicta de toda obra poética do Jim, deixo aqui muitas poesias dele, pois não é muito fácil encontrar seus livros traduzidos aqui no Brasil, algumas letras dos Doors de sua autoria e algumas frases do meu querido Lizzard King!

"A verdadeira poesia não diz nada, apenas destaca as possibilidades. Abre todas as portas. As pessoas podem atravessar aquela que se lhes ajusta. ... e é por isso que sinto pela poesia este apelo tão forte – porque é eterna. Enquanto houver pessoas, elas podem lembrar-se de palavras ou combinações de palavras. Mas nada pode sobreviver ao holocausto a não ser a poesia e as canções. [...]. Se a minha poesia pretende atingir alguma coisa, é libertar as pessoas dos limites em que se encontram e que sentem".


A Celebração Do Lagarto


LEÕES NA RUA
Leões na rua & deambulando
Cães com o cio, enfurecidos, espumando
Uma besta encurralada no coração da cidade

O corpo da sua mãe
Apodrecendo no chão veronil
Ele abandonou a cidade

Foi para o Sul
E atravessou a fronteira
Deixou o caos & a desordem
Para trás
Por cima do ombro

Uma manhã ele acordou num hotel verde
Com uma estranha criatura gemendo ao seu lado.
Suada lamacenta da sua pele brilhante.

Estão todos?
Estão todos?
Estão todos?
A cerimónia está prestes a começar.

ACORDEM

ACORDEM!
Vocês não se lembram onde foi
Terá este sonho parado?
A serpente era ouro pálido acetinada & encolhida
Tínhamos medo de tocá-la.
Os lençóis eram quentes e mortas prisões.
E ela estava a meu lado, velha,
Ele é, não; jovem.
O seu escuro cabelo ruivo.
A suave pele branca.
Agora, corre para o espelho da casa-de-banho,
Olha!
Ela vem para cá.
Não consigo viver em cada lento século do seu movimento.
Deixo a minha bochecha escorregar
O ladrilho fresco e suave
Sente o bom e frio sangue borbulhante.
Os silvos suaves, serpentes de chuva...

UM PEQUENO JOGO
Antes eu tinha um pequeno jogo
Gostava de rastejar no meu cérebro
Penso que sabes qual o jogo que me refiro
Refiro-me a um jogo chamado Enlouquecer

Agora devias tentar este pequeno jogo
Apenas fecha os olhos e esquece o teu nome
esquece o mundo, esquece as pessoas
E nós ergueremos um campanário diferente.

Este pequeno jogo é divertido de fazer.
Apenas fecha os olhos, impossível perder
E eu estou aqui, eu vou também
Liberta controlo, estamos a atravessar

OS HABITANTES DA COLINA
Bem no fundo do cérebro
Passando bem o limiar da dor
Onde nunca há nenhuma chuva

E a chuva cai suavemente sobre a cidade
E sobre as cabeças de todos nós

E no labirinto de correntes por baixo
Sossegada e celeste presença de
Nervosos habitantes do monte nos suaves montes de volta
Répteis com fartura
Fósseis, cavernas, frescas elevações de ar

Cada casa repete um molde
Janela rolou
Um carro de besta trancado contra a manhã
Todos dormem agora
Cobertores silenciosos, espelhos livres
Pó cega debaixo das camas de casais legítimos
Enrolados em lençóis
E filhas, enevoada com sémen
Olhos nos seus mamilos

Esperem! Ouve um massacre aqui
Não pares para falar ou olhar em volta
As tuas luvas e o leque estão no chão
Vamos sair da cidade
Vamos de fuga
E tu és aquela que eu quero me vir!!

NÃO TOCAR NA TERRA
Não tocar na terra, não ver o sol
Nada mais a fazer a não ser fugir, fugir, fugir
Vamos fugir, vamos fugir

Casa no topo do monte, a lua jaz quieta
Sombras nas árvores testemunhando a brisa selvagens
Anda, querida, foge comigo
Vamos fugir

Foge comigo, foge comigo, foge comigo
Vamos fugir

A mansão é amena no topo do monte
Ricos são os quartos e os confortos lá
Vermelhos são os braços de luxuosas cadeiras
E não vais saber nada até entrares lá dentro

Corpo morto do Presidente no carro do condutor
O motor funciona a cola e alcatrão
Anda connosco, não vamos muito longe
Para Este conhecer o Czar

Foge comigo, foge comigo, foge comigo
Vamos fugir

Alguns foras-de-lei vivem junto ao lago
A filha do ministro está apaixonada pela serpente
Que vive num poço junto à estrada
Acorda, rapariga, Estamos quase em casa

Sol, sol, sol
Queima, queima, queima
Lua, lua, lua
Apanhar-te-ei em breve... em breve... em breve!

Eu sou o Rei Lagarto
Posso fazer qualquer coisa

OS NOMES DOS REINOS
Nós chegamos dos rios e auto-estradas
Nós chegamos de florestas e cascatas
Nós chegamos de Carson e Springfield
Nós chegamos de Phoenix encantada

E posso dizer-te os nomes dos Reinos
Posso dizer-te as coisas que sabes
Ouvindo por um punhado de silêncio
Trepando vales até à sombra

O PALÁCIO DO EXÍLIO
Durante sete anos habitei no livre Palácio do Exílio
Jogando estranhos jogos com as raparigas da ilha
Agora estou de volta à terra dos justos
E dos fortes e dos sábios

Irmãos e irmãs da pálida floresta
Crianças da noite
Quem de entre vós fugirá com a caça?

Agora a noite chega com a sua legião púrpura
Metam-se nas vossas tendas e nos vossos sonhos
Amanhã entramos na cidade do meu nascimento
Quero estar preparado.



"O GÊNERO DE LIBERDADE MAIS IMPORTANTE, É SERES VERDADEIRO / TROCAS A TUA REALIDADE POR UM PERSONAGEM / TROCAS OS TEUS SENTIDOS POR UMA ATUAÇÃO/ DESISTES DA CAPACIDADE E EM TROCA POES UMA MÁSCARA/ NÃO PODE HAVER UMA REVOLUÇÃO EM GRANDE-ESCALA, SE ANTES NÃO HOUVER REVOLUÇÃO INDIVIDUAL DA PESSOA/ PRIMEIRO TEM QUE ACONTECER CÁ DENTRO."


"As pessoas precisam de Fios

Escritores, heróis, estrelas,

dirigentes

Para dar sentido à vida

O barco de areia de uma criança virado

para o sol.

Soldados de plástico na guerra suja

em miniatura. Fortalezas.

Navios de Guerra de Garagem.

Rituais, teatro, danças

Para reafirmar necessidades Tribais & memórias

um chamamento para o culto, unindo

acima de tudo, um estado anterior,

um desejo da família & a

magia certa da infância."



"No primeiro brilho do Éden nós corremos para o mar, ficando por lá, na praia da liberdade

Esperando pelo sol.

Você não percebe que agora que a primavera chegou,

é hora de viver ao sol difuso?

Esperando pelo sol

sperando que você venha até aqui

Esperando que você me diga o que deu errado

Essa é a vida mais estranha que eu já conheci"

(Waiting for The Sun)


"Sabem do febril progresso sob as estrelas?

Sabem que nós existimos?

Esqueceram porventura as chaves do Reino?

Já foram dados à luz e estão vivos?

Vamos reinventar os deuses e os mitos das idades;

Celebrar símbolos do mais fundo das antigas florestas (Esqueceram as lições da guerra pretérita)

[...]

Sabem que temos sido levados

à matança por almirantes plácidos

e que lentos generais gordos se tornam

obscenos com o sangue jovem"

(Fragmento de Uma Oração Americana)



Desperte
(Fragmentos de "Poemas das Leituras do Village" Desperte)
Sacuda sonhos de teu cabelo minha bela criança, minha doçura
escolha o dia & o signo de teu dia, a primeira coisa que vês.
Uma árvore queimada, como uma gigantesca
árvore primordial, uma folha, seca & amarga, crepitando histórias em suas cálidas ondas.
Os deuses da calçada serão o suficiente para ti.
A floresta da vizinhança,
O vazio museu perdido & a meseta & o prenhe monumento do Monte por cima da banca de revistas onde as crianças se escondem
Quando terminam as aulas.